sexta-feira, 31 de março de 2017

Orelha do livro


O livro que temos em mãos, originalmente um trabalho acadêmico através do qual Marco Aurélio Gomes de Oliveira obteve, em 2014, seu título de mestre em história na Universidade Federal Fluminense, conta uma história pouco conhecida e nos apresenta personagens até então ausentes da "história da imprensa". Construindo sua análise na perspectiva da história social Marco Aurélio investigou "a atuação de espíritas na imprensa", através da criação de periódicos e, também, da combativa militância doutrinária que travaram por meio de colunas fixas em jornais diários na cidade do Rio de Janeiro, entre 1880 e 1950. Ainda que a existência de muitos periódicos tenha sido efêmera, alguns duraram décadas, mantiveram tiragens bem expressivas e construíram redes de interlocução duradouras, expressando opiniões, projetos e expectativas de um número considerável de espíritas na cidade.

Um intenso trabalho de pesquisa foi necessário para localizar e analisar os periódicos produzidos por adeptos e dirigentes de entidades espíritas, mal preservados e dispersos por diversas instituições de pesquisa, além de registros memorialísticos, estatutos, livros de atas e relatórios de centros espíritas e entidades federativas, dentre outros registros históricos. Em sua pesquisa Marco Aurélio identificou indivíduos, grupos e instituições espíritas envolvidos com diferentes projetos editoriais, indagando sobre as motivações para essa militância por meio da palavra impressa, as estratégias para financiamento e divulgação de periódicos e, também, as redes de alianças que constituíram e as oposições que enfrentaram, ao longo desse período. Acompanhando as mudanças nas formas e nas linguagens da divulgação da doutrina por meios impressos, Marco Aurélio também lançou luzes sobre a constituição de algumas editoras espíritas e suas atividades editoriais, enquanto espaços de articulação de autores, opções estéticas, relações com o mercado e projetos doutrinários e políticos defendidos por espíritas, a partir da década de 1940.

Analisando a contrapelo uma memória una e despolitizada sobre a trajetória do espiritismo e a atuação pública de espíritas, difundida na contemporaneidade por sua entidade mais representativa, Marco Aurélio revelou as profundas divergências em torno de concepções e práticas doutrinárias e as intensas disputas pelos espaços de poder no jornalismo e nas instituições espíritas que marcaram o processo histórico de afirmação do espiritismo como "a doutrina de Allan Kardec".


Prof. ª Dr. ª Laura Antunes Maciel – Universidade Federal Fluminense

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